Amor por Contrato



A premissa é interessante: o filme começa nos apresentando os Joneses (como fica o plural no português, Joneses ou permanece só Jones?) - a família americana perfeita. Eles são lindos, jovens, simpáticos e milionários. Tudo que eles têm é motivo de inveja da vizinhança - o novo Audi do pai (David Duchovny), o tênis de caminhada da mãe (Demi Moore, que à distância parece mais nova que a filha) ou os novos games do filho.

Ainda no começo do filme, o roteiro, de uma maneira bastante ousada, faz a gente perceber que eles não são de fato uma família. Na verdade, os Joneses são uma estratégia de marketing; uma família fictícia, formada por uma empresa como forma de inserir produtos no mercado de luxo.

Parte do filme é uma crítica cínica ao consumismo. A outra parte trata dos dramas particulares de cada membro da família: Duchovny que começa a se interessar de verdade pela falsa esposa, o filho que sofre uma crise de identidade, etc.

Mas nem uma parte nem outra funciona muito bem. O roteiro é raso demais pra dar vida aos personagens. O filme não consegue nos dar a ótica de nenhum deles. Não conhecemos nenhum deles de verdade. Não entendemos o que eles pensam, o que eles sentem e por que. Eles são figuras de papelão, tanto para os vizinhos da história quanto para a platéia.

Quanto à mensagem anti-consumismo, o filme dá um tiro no pé. Primeiro, toda a "sacada" da empresa me parece uma grande furada. Quantos Audis será que se pode vender através da inveja de vizinhos? 2, 3? Por que eles não patrocinam logo uma família real da mídia, como Brad Pitt e Angelina Jolie? Seria muito mais interessante e plausível sugerir também que alguns desses casais de celebridades fossem armações com essa finalidade (Zac Efron e Vanessa Hudgens, Tom Cruise e todas as namoradas, etc).

A contradição básica do filme é a seguinte: ele critica o consumismo, mas assim como os Joneses, o filme só consegue prender a atenção da platéia através de coisas concretas, materiais - mansões luxuosas, pessoas bonitas, aparelhos de ponta - coisas que vão aparecendo na tela o tempo todo e prendendo o espectador no nível mais superficial que existe (depois de cenas de sexo). Não envolvendo a platéia com bom conteúdo, mas provocando inveja no espectador. Pelo menos naqueles que valorizam Audis e tênis de caminhada.

O filme foi escrito e dirigido pelo estreante Derrick Borte. Antes ele era diretor - pasmem - de comerciais...