Minhas Mães e Meu Pai

Dirigido por Lisa Cholodenko. Com: Annette Bening, Julianne Moore, Mark Ruffalo, Mia Wasikowska, Josh Hutcherson Yaya DaCosta.
Minhas Mães e Meu Pai é um típico produto do cinema independente norte-americano: focando sua narrativa numa família não-convencional, o roteiro de Lisa Cholodenko e Stuart Blumberg se concentra no relacionamento daquelas pessoas e nas crises de identidade que enfrentam em função de alguma ocorrência atípica em suas vidas, apostando na vontade do espectador de se sentir sofisticado e liberal ao estimulá-lo a abraçar personagens que fogem do lugar-comum.
No caso, estas personagens são a ginecologista Nic (Benning) e a paisagista Jules (Moore), que, casadas há 20 anos, têm um casal de filhos gerados a partir de inseminação artificial feita com o esperma do mesmo doador. Prestes a partir para a faculdade, a filha mais velha, Joni (Wasikowska, bem mais eficiente do que em Alice no País das Maravilhas) entra em contato com o pai biológico, Paul (Ruffalo), a pedido do irmão Laser (Hutcherson). Este encontro dispara uma crise que já se mostrava latente na relação de Nic e Jules, já que a primeira – surgindo como o estereótipo do “homem da casa” – se mostra fria, distante e obcecada com o trabalho, ao passo que a segunda, que tudo abandonou para ser dona-de-casa, agora tenta se afirmar numa nova profissão.
Sem jamais tentar desafiar o público, o roteiro pinta todas aquelas pessoas como figuras inteligentes, abertas, simpáticas e – claro – nada convencionais: não é à toa que batizam os filhos com os nomes Joni (de Mitchell) e Laser. E tampouco é coincidência que Paul seja um dono de restaurante dedicado à utilização de comidas orgânicas que, como não poderia deixar de ser, mantém um relacionamento interracial – e o simples fato de os realizadores usarem uma personagem negra para mostrar o bom caráter de seu namorado é algo que se revela absurdamente racista, embora, claro, a cineasta jamais perceba isso.
Como resultado da pasteurização de todas aquelas pessoas e de suas relações, o filme acaba perdendo qualquer impulso dramático que mova a narrativa e, com isso, o roteiro acaba sendo obrigado a criar uma crise artificial através do envolvimento absolutamente gratuito e implausível entre Jules e Paul – um romance cujo impulso jamais é justificado pelo longa e que acaba sendo desenvolvido de forma igualmente artificial. Como se não bastasse, a personagem de Annette Benning, ainda que encarnada com entrega e carisma pela atriz, é construída pelo roteiro como uma figura cujo comportamento muda durante toda a projeção a fim de atender as necessidades imediatas da história, impedindo, assim, que o espectador compreenda o que a deixa tão ansiosa (antes mesmo de Paul entrar na equação) e infeliz. E o que dizer dos amigos de Joni e Laser, que inicialmente ganham uma importância desmedida apenas para serem ignorados na segunda metade da projeção?
Contando ao menos com um elenco notável (e Benning, Moore e Ruffalo realmente merecem aplausos pelo milagre que fazem com personagens tão mal desenvolvidos), Minhas Mães e Meu Pai é clichê do início ao fim, mostrando-se ainda mais desonesto ao tentar se vacinar contra as críticas ao levar os espectadores a se sentirem bem com relação a si mesmos. Uma estratégia que, infelizmente, se revela bastante eficiente.
Observação: esta crítica foi originalmente publicada como parte da cobertura do Festival do Rio 2010.